camões – sonetos – xv…

parece que luis vaz de camões se tornou figura de grande popularidade aqui nesse blog. noto o grande número de vezes em que recebo visitas de gente da brava terra lusitana e, invariavelmente, nesses casos, os posts sobre camões estão sempre a receber um enorme contigente de leitores. em agradecimento a esses abnegados leitores, escolhi um outro soneto camoniano para hoje…

busque Amor novas artes, novo engenho
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

olhai de que esperanças me mantenho!
vede que perigosas seguranças!
pois não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

mas conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde;
vem não sei como; e dói não sei porquê.

(Luis de Camões)

camões – sonetos – xxiii…

cara minha inimiga, em cuja mão
pôs meus contentamentos a ventura,
faltou-te a ti na terra sepultura,
por que me falte a mim consolação.

eternamente as águas lograrão
a tua peregrina formosura:
mas enquanto me a mim a vida dura,
sempre viva em minha alma te acharão.

e, se meus rudos versos podem tanto,
que possam prometer-te longa história
daquele amor tão puro e verdadeiro,

celebrada serás sempre em meu canto:
porque, enquanto no mundo houver memória,
será a minha escritura o teu letreiro.

(Luis de Camões)

camões – sonetos – xxxii…

porque quereis, Senhora, que ofereça
a vida a tanto mal como padeço?
se vos nasce do pouco que eu mereço,
bem por nascer está quem vos mereça.

entendei que por muito que vos peça,
poderei merecer quanto vos peço;
pois não consente Amor que em baixo preço
tão alto pensamento se conheça.

assim que a paga igual de minhas dores
com nada se restaura, mas deveis-ma
por ser capaz de tantos desfavores.

e se o valor de vossos amadores
houver de ser igual convosco mesma,
vós só convosco mesma andai de amores.

(Luis de Camões)