a pátria…

longe de ti, se escuto, porventura,
teu nome, que uma boca indiferente
entre outros nomes de mulher murmura,
sobe-me o pranto aos olhos, de repente…

tal aquele, que, mísero, a tortura
sofre de amargo exílio, e tristemente
a linguagem natal, maviosa e pura,
ouve falada por estranha gente.

porque teu nome é para mim o nome
de uma pátria distante e idolatrada,
cuja saudade ardente me consome:

e ouvi-lo é ver a eterna primavera
e a eterna luz da terra abençoada,
onde, entre flores, teu amor me espera.

(Olavo Bilac)

louvores…

todos esses louvores, bem o viste,
não conseguiram demudar-me o aspecto:
só me turbou esse louvor discreto
que no volver dos olhos traduziste…

inda bem que entendeste o meu afeto
e, através destas rimas, pressentiste
meu coração que palpitava, triste,
e o mal que havia dentro em mim secreto.

ai de mim, se de lágrimas inúteis
estes versos banhasse, ambicionando
das néscias turbas os aplausos fúteis!

dou-me por pago, se um olhar lhes deres:
fi-los pensando em ti, fi-los pensando

na mais pura de todas as mulheres.

(Olavo Bilac)

sentidos…

de outras sei que se mostram menos frias,
amando menos do que amar pareces.
usam todas de lágrimas e preces:
tu de acerbas risadas e ironias.

de modo tal minha atenção desvias,
com tal perícia meu engano teces,
que, se gelado o coração tivesses,
certo, querida, mais ardor terias.

olho-te: cega ao meu olhar te fazes…
falo-te – e com que fogo a voz levanto! –

em vão… finges-te surda às minhas frases..

surda: e nem ouves meu amargo pranto!
cega: e nem vês a nova dor que trazes
à dor antiga que doía tanto!

(Olavo Bilac)