na república…

saio um pouco do que tem sido o tema central desse blog para plantar algumas palavras de protesto em relação ao que se tem visto no cenário nacional. nosso combalido país ressente os desmandos da classe política que nos assola. uma administração pública, em praticamente todos os níveis, incompetente (isto para não me enveredar por outros caminhos) e um oposição conivente. tudo sob a aprovação de uma população politicamente ignorante e culturalmente descompensada. para agravar o quadro, centenas (é o que diz o Wikipedia) de casos registrados de deslavada corrupção, malversação de dinheiro público e outros indícios latentes de crimes de lesa patria, os quais denunciam perdas generalizadas: começou perdendo-se os dedos das mãos, agora perdeu-se a vergonha. esse protesto, digamos assim, vai, para não se perder, também, a verve, em forma de poema. um poema político.

catarinense de desterro (florianópolis, ou floripa, como querem alguns), luis delfino nasceu em 1834 e morreu no rio de janeiro em 1910. médico, foi senador da república por santa catarina. embora tenha escrito muitos poemas, jamais publicou um livro em vida. sua assinatura é uma métrica (quase sempre) perfeita e a mulher amada. nesse caso, vamos fugir um pouco desse tema e trazê-lo da atividade política, já que suas palavras são, sem dúvida, atualissimas.

na república 

queres saber o que anda de verdade
neste nosso país, e de ano em ano?
nosso país, Helena, eu não profano,
mas o brasil não sente a liberdade.

bárbaro é o povo, espuma de outra idade;
há vão orgulho num republicano:
nos chefes mesmo há gestos de um tirano,
e de um césar a cega fatuidade.

Helena, te direi, por mais que pense,
estou numa república insensata:
meu tipo à grécia de Platão pertence.

quisera, esbelta e linda aristocrata,
ao pé de mim o artista ateniense,
moldando o ouro, e num Deus dando alma à prata.

(Luis Delfino)

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